A preocupação dos consumidores com as embalagens
Na cultura tradicional Japonesa, um objecto físico é mais do que simples matéria, pois contém a presença de um “ser”. Por isso, a embalagem não serve apenas para embrulhar um pedaço de matéria física, mas também para alojar a presença deste. O carácter antropomórfico dos objectos, sugere que estes se tentam libertar dos constrangimentos da embalagem.
É este o mote com que a designer Shinya Izumi, apresenta o clássico “Package Design in Japan”, contextualizando as implicações sociais e culturais do projecto de embalagem no Japão, país onde, pelo simbolismo que lhe está inerente, é merecedor de um cuidado ambiental acrescido, e onde o cidadão assume o dever e a obrigação (não apenas o direito) de registar as desconformidades sobre o bem comum.
Num mês em que os níveis de consumo, invariavelmente, aumentam, seria salutar que a exigência do consumidor face ao design das embalagens dos produtos fosse também ela imbuída de espírito natalício. Nos últimos anos, várias empresas reviram condutas e alteraram métodos de produção, como a desactivação de testes em animais, face às decisões de consumidores informados que, simplesmente, deixaram de comprar produtos de determinadas marcas (algo inimaginável há apenas uma década e meia atrás).
De forma similar, a adequação do design das embalagens exige uma postura mais atenta e activa por parte dos cidadãos. É eticamente inaceitável a quantidade de recursos naturais usados para embalar determinados produtos. A título de exemplo, veja-se a desproporcionalidade média entre um telemóvel e respectivo invólucro para venda ao público, ou a disparidade de materiais (papel, plástico, metal) usados em produtos de higiene e beleza que inviabilizam a sua reciclagem.
Dois anos após o “flop” da conferência de Copenhaga, o relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas da ONU é sintomático sobre a necessidade de emergir um novo paradigma de produção e consumo nas sociedades desenvolvidas. Caso contrário, resta-nos empacotar as vidas e emigrar para o recém-descoberto planeta “Kepler 22-b”, supostamente idêntico à terra, ainda que me pareça bem mais sedutora a ideia do “errante navegante” preservar a nossa “estrela azulada”.
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